quarta-feira, 23 de setembro de 2020

O Kung Fu não tem segredo ou surpresa

 Hoje farei a última postagem neste blog, não faria muito sentido encerrar as atividades falando de qualquer que fosse o fragmento de ideograma, no lugar disso vou falar de uma percepção obtida através do convívio com o meu Si Fu.


Caso esteja conhecendo o blog agora, sou discípulo do mestre Julio Camacho, e Si Fu é como nós, seus discípulos, o tratamos. 


Em diversos momentos Si Fu já dividiu conosco que não é dado a surpresas, nem mesmo em aniversários. Anos atrás, antes de entender da maneira que vejo hoje, eu tentava, em vão, participar de grandes “projetos secretos de asa delta” para fazer alguma surpresa funcionar em algumas das homenagens endereçadas a ele. 


Em uma das vezes ele me perguntou brincando: (e aproveitando para transmitir algo que me desse novos prismas.) eu sou seu inimigo? Se não sou é melhor contar o que vai ter na homenagem, e se for alguma coisa que eu não gosto? Vou descobrir na hora?


Talvez você tenha ficado curioso para saber se eu revelei a surpresa, sinceramente não lembro se sim ou não, mas isso ficou registado. 


Nem sempre um bom ensinamento precisa vir acompanhado de uma fala rebuscada, até prefiro que venha acompanhada de uma roupagem simples. Naquele momento Si Fu teria deixado comigo uma partícula insignificante; em tamanho, forma, expectativa, intenção. 


O sistema Ving Tsun disponibiliza, já no seu primeiro nível de domínio, uma listagem com um nível de riqueza explorável que não esgota, pelo menos não antes que o seu próprio tempo esgote. 


Ok, mas e qual é a ligação? A ligação é que a riqueza está aparente, logo no início.


A surpresa pode remover o efeito de sinergia, tão desejado nos esforços coordenados. 


Claro que não seria justo dizer que tudo foi só uma brincadeira e que o blog não vai ser encerrado, como fosse uma surpresa, vai sim. O Glossário Kung Fu será apagado em 4 semanas ou menos, e novos veículos serão criados para publicações colaborativas. 


Sigamos!


domingo, 23 de agosto de 2020

Fica ligado! Siu Sam #005

Sejam bem-vindos, nas próximas semanas vou continuar contando meus relatos sobre as minhas percepções e experiências vividas no curso ministrado por meu mestre, Julio Camacho, a quem chamo de Si Fu, então se você chegou nos últimos dias e não leu nenhuma especificação sobre isso agora já está sabendo. 

No meu último relato eu deixei uma pergunta para mim mesmo de quantas ideias eu (ou você) poderia coletar e hoje vamos continuar explorando e brincando com as possibilidades e potenciais ideias escondidas dentro de três sons familiares para praticantes de Ving Tsun: “Siu Nim Tau”. 


小 siu


念 nim 


頭 tau



Mestre Julio Camacho em um curso anterior sobre o Siu Nim Tau

Desta vez eu preferi adotar a mesma romanização encontrada em dicionários, se na sua família, linhagem, estilo, clã, tribo ou convenção é escrito diferente, não tem problema, o jeito correto de escrever sempre será com ideogramas e a romanização é somente para nos ajudar com um ponto de partida sonoro. “Você não colocou os tons!!!” Calma, chapa! Não é um curso de Chinês, relaxa! Haha!


小心 siu sam




Estes dois juntos são vistos com muita frequência nos lugares mais comuns possíveis, pois transmitem principalmente o sentido de atenção, cuidado, observe atentamente ao redor ou aquele “mind the gap” maroto de quem já teve que dar um salto do transporte para a plataforma, siu sam é o fica ligado das massas.


Muito interessante isso tudo, mas a sua contribuição é falar de dois ideogramas comuns em qualquer placa de piso molhado? Sim!


Vai embora ainda não que tem mais! Nesta última quarta-feira, 19 de agosto, que é a melhor data do ano até o próximo 19 de agosto, meu Si Fu falou de diversos pontos de atenção exploráveis dentro do ínicio da sequência do Siu Nim Tau: como os dedos devem abordar o chão, posicionamento do quadril, sobre como aproveitar a força da gravidade para economizar força física na execução do movimento, o uso dos membros como contrapeso dinâmico para geração de equilíbrio, a exploração da caminhada, micro ajustes e mais alguns vários detalhes. 

O Siu Nim Tau não é estático, mono tom e algumas outras que devemos ter atenção, esse foi o fica ligado dessa última quarta. 


Agora falando de novo dos dois ideogramas nós temos “pequeno”  ao lado de “coração/mente”... Poderíamos pensar que devemos voltar nossos corações e mentes para as pequenas coisas?


Ainda sobre isso, Si Fu nos lembrou de um ditado muito falado na Itália e amplamente usado por mafiosos que alerta o seguinte: 

“I piccoli mali sono le sorgenti del nostro dolore. Gli uomini non inciampano nelle montagne ma sulle pietre.” 


“Pequenos males são as fontes de nossa dor. Os homens não tropeçam em montanhas, mas em pedras. "


Durante uma rápida leitura para trazer a escrita correta deste provérbio em italiano, observei que um número grande de italianos diz ser um provérbio chinês… Parece que Marco Polo não trouxe só pacotes de miojo Turma da Mônica na mochila. (Calma, já sei que se comia macarrão na Itália antes de Marquito, mas não dava pra deixar barato.)


Outro alerta de meu Si Fu é para não esquecer de monitorar alguma parte, isso certamente geraria um decréscimo de qualidade no passo seguinte na sua execução da sequência. 


E já que estamos na semana internacional do folclore, vou encaixar mais um dito popular espanhol: 

“Borra con el codo lo que escribe con la mano.”

“Ele apaga com o cotovelo o que escreve com a mão.”


Depois desse chain combo de China, Brasil, Itália e Espanha não tive como não associar com minha irmã Kung Fu que vive um laço real com todos estes povos; Carmen Maris.


E caso vocês queiram ler as percepções dela aqui está o caminho


https://naestradadesaamfaat.home.blog/


Hoje eu vou me despedindo por aqui e na semana que vem eu continuo essa ideia falando da Poesia, Filosofia e a Ciência como elementos indivisíveis como 心 (sam) comporta racionalidade e sentimentos num só barco.


Até lá!


sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Gam, Ji, Nim. Quantas ideias posso coletar? #004

 Na noite de ontem, 12 de agosto, estávamos reunidos com meu Si Fu e ele ministrava para nós a primeira etapa de um curso histórico, que contempla a trilogia fundamental do Ving Tsun. 

Sobre os três domínios da trilogia fundamental, o primeiro é o Siu Nim Tau; talvez você tenha visto escritas romanizadas diferentes e podem significar a mesma coisa ou não, tudo depende do ideograma, pois é a escrita que realmente importa. Mas, se você chegou até aqui após ler as postagens anteriores ou pelo nome da página, sabe que vou falar sobre algum termo, não falarei sobre o nome Siu Nim Tau ou sobre os seus ideogramas isolados, hoje ficaremos com a "metade" de um ideograma.

Qualquer idioma é cheio de caprichos, alguns mais aparentes e outros menos aparentes e é neste segundo caso que corremos o risco de achar que um idioma é "duro", ontem Si Fu me ajudou a atualizar esta ideia trazendo várias contribuições exclusivas dele, mesmo quando citou os mestres que nos antecederam.

Claro que você viu o título e sabe que falarei do ideograma 


今 gam

Quando falamos Siu Nim Tau, o ideograma central, Nim , se divide em dois outros ideogramas, acima temos "gam" e abaixo "sam". Si Fu em alguns momentos do curso pediu para que déssemos atenção para algumas palavras, sinceramente não lembro se "gam" foi uma delas, mas foi inevitável não fazê-lo. Surgiu a necessidade de explicar para onde deveríamos olhar e então ficou marcado na minha cabeça uma frase do Si Fu que era mais ou menos o seguinte:

"Essa casinha, esse telhado onde debaixo tem um gancho dá a ideia de atualizar"

Entre os idiomas em que o Si Fu se debruça para esmiuçar está o Chinês, mas falarei disso em uma outra ocasião. Minutos após o término da primeira aula do curso, Rubia e eu procurávamos possíveis significados para os diversos termos apresentados e reapresentados na noite, então ela observou que "gam" se dividia mais uma vez e me mostrou a metade "ji" 亼 e o dicionário mostrou que uma das possibilidades em Inglês seria "to gather". Fiquei uns bons minutos conversando com a discípula 36 sobre a riqueza só desta possibilidade e o quanto um dicionário pode ser traiçoeiro caso você decida abraçar somente o que é mostrado imediatamente e nos divertimos bastante com isso. 

Não vou falar sobre sinônimos dicionarizados de "to gather", isso você mesmo pode fazer, mas vou apontar o quanto é uma palavra relacionada com coletar o que tem de melhor dentro de uma substância (ou ideia) para ser lapidado, não basta apenas fazer um ajuntamento de alguma coisa ou propósito, mas é necessário fazer do objeto coletado algo mais útil, refinado, acabado, apresentável. Minha esposa lembrou de outro detalhe: "ji" se torna "gam" quando recebe outro ideograma relacionado com pessoa, logo para estar atualizado é preciso ter referências em você mesmo e nos outros.

Associando este pensamento de prospecção com "sam", temos um leque muito vasto de potenciais riquezas contidas em um só ideograma composto de outros. Que me lembra de uma outra conversa que tive com a minha namorada sobre o quão poética consegue ser a escrita chinesa mesmo falando de objetivos práticos, quem sabe o quanto isso influencia que o Chinês seja "uma" língua cantada em tons? Calma, foi só brincadeira.

Encerro aqui agradecendo ao meu mestre, Julio Camacho (caso seja a sua primeira leitura aqui) e a Rubia. 

A gente se fala em breve, té mais!

PS: "Se você abriu o texto falando de ontem como essa publicação saiu dia 14?"

Aí eu convido você a "pensar sobre".

sábado, 4 de março de 2017

Taan Sau - Receptivo Com Face Ofensiva #003

TAAN SAU

攤手


Não me atreveria a dizer que uma técnica é mais importante que outra, mas existem técnicas com chances maiores de serem acionadas que outras. Julio Camacho, meu mestre, nos lembra frequentemente que se algo é importante deve ser apresentado para você no início, para que possa ser experimentado por mais tempo e consequentemente melhor maturado. Tratando-se de experiências corpóreas não poderia o pensamento ser diferente.

Mestre Sênior Julio Camacho posicionando Taan Sau sobre Yi Ji Kim Yeung Ma

A foto acima faz parte de um conjunto de fotos que ilustram toda a sequência da forma Siu Nim Do. A sequência do Siu Nim Do completa você acompanha aqui, através destas fotos raríssimas. Achou este movimento semelhante com alguma coisa já vista na Internet, cinema ou séries? Tem razão.



Muitas vezes, na tela, vemos o Taan Sau aparecer como uma técnica de bloqueio que aguarda o ataque chegar, isso pode acontecer, mas sabemos que essa é apenas uma parcela deste Jiu Sik.


Conforme visto na demonstração com Mestre Julio Camacho, quando o Taan Sau não se configura gerando ocupação de área, é necessário que haja desdobramentos que resultam em tendência de insucesso. Você já deve ter antecipado que o nome do Jiu Sik está diretamente ligado ao sucesso na execução deste movimento, vamos a ele.

ESTICAR / EXPANDIR - TAAN

Vendo o significado deste termo fica mais claro que o (Jiu Sik) Taan Sau tem característica de dominar uma área de atuação através de ocupação que avança ao longo da linha central. Certamente o posicionamento do braço, cotovelo, altura do Taan Sau, níveis de retração e expansão do movimento em relação ao adversário dão toda a diferença. Sobre estes dois últimos, há termos específicos para eles e falarei deles em breve.

MÃO / PUNHO / MEMBRO SUPERIOR - SAU

Este termo irá acompanhar a maioria dos Jiu Sik realizado com as mãos, da mesma maneira que Ma acompanha nomes de bases.

Até mais!


Próxima postagem: Bong Sau






  







terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Yat Ji Jung Choei - O Soco do Ving Tsun (Wing Chun) #002

Yat Ji Jung Choei

日字中捶


Na última postagem (Yi Ji Kim Yeung Ma) falamos da importância singular da estrutura de sustentação para conseguir produzir qualquer resultado.  Todas as disciplinas marciais, desportivas ou não, visam obter resultados com o menor esforço possível, mas há um outro ponto que meu mestre sempre nos lembra "apoie-se no potencial da situação". Isto vale tanto para responder aos estímulos oferecidos pelo adversário quanto para melhor aproveitamento dos mecanismos do seu próprio movimento.



Em base Yi Ji Kim Yeung Ma socando Yat Ji Jung Choei





Antes de fragmentar o termo do dia vou lhes deixar um Kuen Kuit (provérbio marcial), que vi no blog "Alinhamento Marcial", que fala também disso numa ótica diferenciada. Veja a tradução, a imagem do carimbo de pedra e o texto falando deste Kuen Kuit aqui.

應打則打

不應打不可打

毋強打

勿亂打 

Futuramente você revisitaremos esse Kuen Kuit e visitaremos muitos outros, palavra por palavra.

Voltando ao soco, Yat Ji Jung Choei, posso dizer que sempre que soco com o punho em pé é Yat Ji Jung Choei? Não.

Yat Ji Jung Choei depende de fatores específicos para que se configure e seu nome dá toda referência (quanto a natureza) que precisamos.

Momento de preparação do soco tendo como referência a Linha Central

Meio, Centro - Jung

O punho é posicionado no centro e vai percorrer ao longo da linha central imaginária e termina seu percurso no alcance máximo do braço.

Em sua obra Grão-Mestre Moy Yat transmite os pontos chave do Yat Ji Jung Choei, num hipertexto, onde as figuras trocam informações entre si

Sol - Yat

Grão Mestre Moy Yat evidencia em sua obra o ideograma Sol, os pontos de contato do punho com o alvo e o posicionamento da mão e o detalhe do polegar. Ver o Sol nascer quadrado pode ter mais significados dolorosos. Note que pela segunda vez temos Ji (字) inserido no termo dando a dica de que um determinado ideograma pode ser "visto" desenhado no corpo ou com ajuda dele desenhado em algum lugar ou coisa.

O ideograma correspondente ao soco será parte de outros termos futuramente. No vídeo abaixo, numa das raras demonstrações gravadas e disponibilizadas para Internet observaremos como o soco pode ter variações. Lembra quando  falei sobre apoiar-se no potencial da situação?




Soco - Choei

O Kung Fu de maneira geral pega termos emprestados de outras coisas, sejam objetos, animais ou atividades, mas isso não é exclusividade chinesa. Da mesma maneira que temos sinônimos variados para chutes e socos, na China não seria diferente. Este mesmo ideograma carrega vários significados e diversos usos, como socar, atingir com bastão, martelo e por aí vai. Há outros ideogramas que significam ou podem ser usados para descrever "soco"? Sim.

Já imaginou como seria para um chinês estudando arte brasileira e lidando com termos tipo "baixar o sarrafo ou sentar o sapato"?

Até mais!



Próxima postagem: Taan Sau












quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Yi Ji Kim Yeung Ma - Base estacionária #001

Yi Ji Kim Yeung Ma

二字鉗羊馬





Ano 2000 iniciei meus estudos dentro do Ving Tsun Kung Fu com Mestre Sênior Julio Camacho. Baseado nas conversas que tivemos ao longo destes 17 anos vou ilustrar curiosidades culturais, termos chineses e outras neste blog.


Imagem da série de vídeos do Especial Fragmentos do Kung Fu


Talvez você estude Ving Tsun (Wing Chun), alguma arte brasileira, japonesa, filipina, chinesa, tanto faz, posso assegurar que o responsável técnico pelo seu treinamento fez diversas observações sobre sua base. Com meu mestre isso não foi diferente.



Imagem de divulgação - fonte Internet




O termo de hoje é a mais famosa base do Ving Tsun, o Yi Ji Kim Yeung Ma.

Na imagem acima vemos o personagem do Patriarca Ip Man, vivido por Donnie Yen, segurando seu adversário para socar. Nesse caso Yi Ji Kim Yeung Ma foi quase literal (Você conta e o carneiro que puxa um sono).

O Jiu Sik (técnica) Yi Ji Kim Yeung Ma permite que diversos estudos e checagens sejam realizados enquanto você o executa: Estudo de posicionamento dos pés, joelhos, entendimento de rotação do quadril, encaixe do quadril, absorção de força externa e redirecionamento, entre outras. Com isso podemos dizer sem dúvidas que é uma base estacionária, mas nem por isso estática. Se você já tem alguma vivência com esta base, talvez tenha feito sua abertura enquanto lia este trecho, mesmo que mentalmente. Abaixo uma imagem do Jiu Sik para ilustrar.


Sustentado pelo Yi Ji Kim Yeung Ma e realizando a checagem dos componentes da base

Que tal visitarmos este termo falando de palavra por palavra?

Cavalo - Ma

Por ser um símbolo de resistência e estabilidade cavalo é um termo que acompanha frequentemente nomes de bases chinesas ou não.

Prender - Kim / Carneiro - Yeung  


Os joelhos ligeiramente fletidos para dentro fazem lembrar uma posição de tosquia de carneiro.

Dois  - Yi / Ideograma - Ji

Os pés acompanham o direcionamento dos joelhos e se resolver traçar duas linhas, imaginárias ou não, de um calcanhar até o outro e o mesmo com os hálux, verá o ideograma composto de dois traços horizontais no chão.

Esse foi o termo de hoje, visto em partículas menores e seus ideogramas. Por falar em partículas segue o vídeo com demonstração de técnicas da série Fragmentos do Ving Tsun Kung Fu com Mestre Julio Camacho, suas demonstrações são raras. Clique aqui e entenda melhor em A Journey of Ving Tsun Life 



As técnicas apresentadas no vídeo se conectam diretamente com o tema\termo de hoje e o próximo, portanto fiquem ligados. Gostou do vídeo? Curta e compartilhe e para não perder os próximos, inscreva-se no canal e nos acompanhe por aqui até o próximo termo.

Até mais!


Próxima postagem: Yat Ji Jung Choei